À medida que o número de resenhas por aqui vai aumentando (ainda que num ritmo bastante lento), eu acabo me deparando com mais e mais resenhas ruins pela Internet. Como leitor, estou sempre interessado por discussões acerca das obras que consumo e sempre vou atrás de opiniões e interpretações diferentes da minha. Porém vivo me deparando com algo assustador: resenhas que não dizem nada.
Em pleno 2018 já era para eu ter me acostumado com o fato de que a Internet é um grande espaço de desordem, caos e etc. Mas ainda assim é notável como algumas coisas procedem e gostaria de compartilhar um pouco do que me “assombra” em relação a pessoas que se dispõem a escrever um texto e postar sua opinião para que outras leiam.
A coisa mais notável nos últimos tempos é a questão da plataforma. Existem tantos sites diferentes para compartilhar conteúdo, porém na maioria das vezes eles são usados da mesma maneira, ou seja, sem um crivo de “como falar sobre algo” em diferentes lugares. Um exemplo simples, o famoso textão de Facebook. Apesar do seu alcance como ferramenta de interação, para textos longos acaba sendo uma porcaria. Não é confortável ler por muito tempo no espaço reservado ao texto no layout do Facebook. Tudo bem que na versão mobile isso acaba sendo menos incômodo, mas ainda assim continua não sendo o melhor lugar para se ler algo longo. Se for para divulgar um texto comentando uma obra pelo Facebook, acredito eu, que vale muito mais a pena ser sucinto, pois é fácil perder o interesse e realizar apenas uma “leitura dinâmica” para saber resumidamente o que estão querendo dizer.
Se o Facebook já não é um lugar exatamente confortável para realizar leituras, o que dizer do Instagram? Provavelmente é o pior lugar para despertar interesse sobre um texto, afinal, é um aplicativo pensado para promover fotos. Os textos não passam de complemento dentro dessa ferramenta. As páginas do Instagram, para quem abre algum link no desktop, são uma bela porcaria para realizar leitura, tornando-as algo quase que exclusivo para ser desfrutado na versão mobile. Mas que assim como o Facebook, passa longe de um conforto para textos longos. Resumindo, o instabooker tem grande potencial para ser um bom fotógrafo.
Já o YouTube, ou melhor dizendo, os canais de booktubers, conquistaram um espaço interessante e ganham cada vez melhores produções. Vejo bastante trabalho bem feito nessa plataforma e é a que mais se adequou ao seu formato, o vídeo. O que quero dizer é que vídeos curtos e médios que colocam o espectador dentro de uma informação ágil me parecem a melhor evolução possível dos antigos blogs literários. Mas não pense que não há uma perca, pois também percebo a falta de certa profundidade nesse formato de resenha, principalmente quando os booktubers passam maior parte do tempo falando do enredo do que resenhando. Já parou para pensar que contar a história de um livro não é o mesmo que resenhar? Pois é, parece que muita gente ainda não se deu conta disso.
E qual a vantagem dos blogs? A resposta é simples: a organização do espaço de postagem. Em quase todo blog gratuito é possível organizar o tamanho da fonte, a posição do texto dentro do layout do site, a cor ou imagem de fundo, assim como a cor da fonte. Sem contar que é fácil adicionar fotos em posições estratégicas, inserir símbolos, hyperlinks, usar recursos html, etc…
Agora continuando com outra questão essencial: por que leitores também resenham? Acredito que a maioria sente alguma empolgação após finalizar uma leitura e isso os compelem a escrever qualquer coisa. Se por um lado isso é legal, por outro, estamos acumulando uma certa quantidade de informação que dificulta encontrar uma opinião que realmente diga algo sobre uma obra. E aqui vai um óbvio exemplo: Skoob. Basta entrar em algum best-seller, de preferência algum que acrescente um pouco de estilo e técnica narrativa, como Clube da Luta (1996), e você vai entender onde quero chegar. Isso me deixa um pouco preocupado, imaginando se existe ou não um amadurecimento do leitor após encarar uma obra.
Mas voltando ao Skoob, já encontrei muita resenha onde alguém apenas copiou e colou a sinopse do livro. Ou então, leitores que não compreenderam certas questões conceituais básicas que compõe a trama/projeto de alguma obra. Mas isso não é um problema localizado, o mesmo tipo de informação (ou chame isso de resenha se preferir) na Amazon e blogs. Um exemplo interessante foi um texto postado num espaço dedicado a resenhas, mas que só continha frases de efeito ditas pelos personagens.
Acredito que exista um motivo para resenhar que não seja a euforia de acabar um livro ou um quadrinho. Ocasionalmente me deparo com editoras que compartilham resenhas de obras que elas publicaram e percebo que o que elas receberam, na verdade, foi apenas uma sinopse de algum instabooker, ou o resumo da trama principal por um booktuber. Fico decepcionado nesses momentos, pois não era esse o tipo de informação que eu buscava.
Não é difícil parar um pouco para estudar o meio editorial. Tenho feito isso nos últimos anos e foi algo que me ajudou imensamente ao analisar um livro. Existe uma rede enorme de podcasts, grupos virtuais e autores dedicados a fomentar a literatura. Basta ter interesse para se tornar um leitor/resenhista “melhor”.